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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O Sumiço do Lulinha - Minha História com a Rádio Uirapuru

O Sumiço do Lulinha - Minha História com a Rádio Uirapuru


            Sou porto-alegrense e moro em Passo Fundo há mais de 22 anos, sou um apaixonado por rádio e, sempre que possível, estou ligado na 1170 AM. A minha programação começa lá pelas 6h30min da manhã, com o Valdir Mello – sempre bem humorado e ligado na tomada – com seus plantões da brigada militar, corpo de bombeiros, polícia rodoviária, a palhinha do JG e também de olho na temperatura (... no termômetro da Brasil a temperatura tá na marca dos menos 4 graus, brrrrrrrr) , previsão do tempo, sinopse das principais notícias da “cidade, país e do mundo”, conforme frisado pelo competente profissional. De sobra, sempre uma piada fresquinha prá nos tirar da cama com alegria e boa informação - a mim e meu filho a quem levo para o Notre Dame.

            Nos finais de tarde também o rádio está ligado na líder de audiência do planalto médio, pois gosto de saber das notícias de minha cidade natal e do que se passa em nossa cidade, na voz do apresentador Chorão.

            E o que dizer do Acácio Silva, a boa fonte de informação policial, confiável e detalhista em seus relatos sobre o “lado negro” do crime na capital do planalto médio. Da turma do “alto clero”, a se destacar a Ieda Almeida, sempre presente em vários eventos da rádio, e do JG, no horário nobre do rádio brasileiro, aquele em que o cidadão comum toma seu café da manhã sabendo dos fatos do novo dia que (re)começa.

            Poderia citar vários profissionais, mas nas pessoas destes que referi, se sintam todos parabenizados pelo competente trabalho desempenhado.

            Pois bem, minha ligação com a Uirapuru começou lá pelos idos de 1993, quando ocorreu um fato inusitado em minha vida, o qual passo a narrar:

            Viajo pela região, em razão de minha atividade, e, num desses municípios, adquiri um pássaro a quem atribuíram a alcunha de “Lulinha”, em razão de minha opção de voto no então candidato Lula no pleito daquele ano. O pássaro em questão era um papagaio (vamos nos abster da legalidade de possuir o bichano), grande, esperto, criado desde pequeno, e para o qual dediquei horas a fio de assobios do hino clubístico do Inter, hino nacional, algumas músicas, o parabéns prá você, o atirei o pau no gato, mas, principalmente, a frase que mais gostávamos de escutar: dá a cabecinha prá coçar, louro (ou lulinha). Ele respondia com maestria esta última, tenho até hoje gravações com este feito.

            O papagaio era muito afeiçoado pela família, nós o adorávamos, minha filha Maria Isabel era louca por ele, tanto que carregávamos a gaiola quando nos deslocávamos em viagem, para tê-lo por perto. Virou um membro da família e recebia tratamento especial, como requerem os animais: és responsável por aquilo que cativas (Saint-Exuperri).

            No entanto, num dia de primavera se abateu sobre Passo Fundo ema viração típica da estação, um vento desafiador que assobiava e levava tudo que encontrava pela frente. O Lulinha, pelo seu porte e docilidade, ficava sempre com a porta da gaiola aberta, sendo-lhe podadas as asas regularmente, pois animais criados em cativeiro dificilmente se adaptam novamente no ambiente que deveriam sobreviver, ainda mais que não são típicos de nossa região (era do Centro Oeste).

            Este vento carregou o nosso Lulinha, e com ele se abateu sobre nós a tristeza e a sensação de perda de alguém muito apegado. Minha filhota, ruivinha famosa desta cidade, então com 5 anos, era só choro e desespero pelo que podia acontecer com o pássaro amigo, que lhe dobrava a cabecinha pra um afago. A desolação dela era tamanha, não sabia o que fazer procuramos pelos prédios vizinhos (morávamos em um edifício alto na Bento Gonçalves perto do BB), perguntamos em casas da redondeza, fomos nas praças onde existem árvores em abundância e nada do Lulinha, nem dos seus “resmungos”.

            Aí, alguém me assoprou uma frase: por que não liga pra Rádio Uirapuru! A princípio levei aquela dica com uma ponta de desconfiança, onde se viu, uma rádio se importar com um fato destes, enquanto o mundo ruía, a crise grassava, a criminalidade sempre presente, o Inter em baixa, a música solicitada pelo ouvinte fiel para atender, enfim, o locutor teria coisas mais importantes para lidar... Enchi-me de coragem e liguei para a Rádio e a secretária, prontamente, me colocou em contato com o apresentador do programa, na época o afamado Júlio Rosa, que me atendeu cordialmente, e ficou interessado na minha história, fazendo-me alguns questionamentos acerca do pássaro (descrição da cor, porte, etc).

            Pensei: “bem, ele me ouviu, foi um descargo de consciência, minha filha sabe que estou à procura do Lulinha, mas acho que não passa na programação da rádio, mas...”. Pois para a minha surpresa, na volta do intervalo comercial, entra o Júlio Rosa e faz um “apelo” comovido em nome da minha filha “que estaria sentindo muito a ausência do papagaio”. Aquilo me tocou muito, tanto pelo fato inusitado, mas também pelas palavras usadas pelo radialista: “faço um apelo”.

Marcou-me muito este fato, o poder de comunicação do rádio, a veracidade da notícia, o atendimento ao seu público para coisas que, cotidianamente, podem passar despercebidas. Parece que até hoje ecoa aquelas palavras lançadas nas ondas da Rádio Uirapuru – o desaparecimento de um papagaio! Virou notícia, foi fato, aconteceu e foi relatado – mas foi de um papagaio chamado carinhosamente de Lulinha! Este é o poder mágico do rádio, por isso me identifico com ele. Os meios de comunicação avançaram, e muito, nestes anos; mas a voz do locutor, do radialista, a empatia com o seu público, continua a mesma. Embora seja um monólogo, o jornalista sabe de sua responsabilidade, sabe o que e como transmitir, o ouvinte espera a fidelidade, a isenção e o equilíbrio em suas ações. Quer sentir a entonação (diferente) da voz do locutor para um anúncio fúnebre, para uma piada, ou na vibração eufórica de um gol de seu time, e, a tristeza, logo após, pela injusta anulação do tento.

Infelizmente não logramos êxito, o Lulinha nunca mais deu as caras, aquele dia ventoso era o dele, da sua libertação, do bater de asas, de buscar novos ares e lares. Quem sabe esteja hoje feliz e realizado, na companhia de outros pássaros lá no zoológico da UPF (eu acho que até hoje o vejo por lá, com uma bela companheira de rabo verde!), ou na casa de pessoas que se encantaram por ele. Só espero que não o tenham ensinado o “até a pé nos iremos...”.

Esta é a minha história de identificação com a Rádio. Não cogito ganhar prêmio, mas quero deixar registrada a gratidão pelo trabalho realizado em prol de seus ouvintes. Sei das dificuldades, das limitações que se impõem aos meios de comunicação, da competitividade, de “matar um leão por dia” para manter a fidelidade do público alvo: os ouvintes.

Mais anos e anos de existência a Rádio Uirapuru, e que tenha sempre o respeito aos seus ouvintes, os eduquem, os façam crescer como cidadãos, os dê sabedoria para discernir o que é justo do injusto.

Deodoro Miguel Branchi